For English, please scroll down to the British flag and Italic text. Thanks! If you haven't subscribed yet, please do so down here:
🇧🇷 Depois de quatro anos de espera, finalmente cheguei ao Japão. Ficarei por aqui durante o mês de outubro, um pouco em cada canto do arquipélago. Fukuoka, Osaka, Tóquio, Kioto, Nara, Hiroshima, Nikko e Naoshima estão nos planos. Penso em dar uns alôs no Instagram de vez em quando e, no fim do mês, contar por aqui sobre a viagem, dar algumas dicas, trocar ideias. Um livro que me inspirou no roteiro foi Pachinko, de Min Jin Lee, que recomendo vivamente. Por hora, entrego este pequeno conto como um nigiri de atum ou um pratinho de edamame. Itadaikimasu!
PETO
Vivo confortavelmente num apartamento de mais de 300m2 em Toranomom Hills, Tóquio. Da janela da sala, em dias claros, dá para ver o Monte Fuji. Todas as noites me deito em um tapetinho confortável próximo à vidraça e fico observando as luzes da cidade sem fim. Durmo ali mesmo enfeitiçado pelos neons enquanto Ryou e Seiji escutam música clássica.
O casal Sakamoto é bastante generoso. Levou um tempo para me acostumar a viver com eles. Só me dei conta do que poderia perder no dia em que escapei do carro durante um passeio matutino por Shibuya. Era bem cedo e reconheci alguns ex-colegas deitados na calçada. Deviam ter perdido o último trem para os subúrbios depois de muito álcool e drogas. Ser garoto de programa no Japão não é fácil. Ainda mais estrangeiro. Por sorte, Ryou saiu atrás de mim esbaforida, me pegou pela coleira e me levou de volta ao carro.
Foi numa esquina como aquela onde me pegaram. Devem ter gostado do jeito em que eu dormia aninhado numa caixa de papelão. Tinha perdido o trem depois de ficar horas conversando com uma secretária chata no bar onde trabalhava. Não tinha bebido nada, ao contrário da moça que foi embora carregada pelos fortões que nos ajudavam nessas horas. Nem me dei ao trabalho de correr até a estação. Os trens japoneses são pontualíssimos e o último sai cedo demais para quem trabalha até tarde. Catei uma caixa de papelão do lixo reciclável e dormi ali mesmo.
Quando acordei, o casal Sakamoto me olhava e conversavam entre si. Já tinha escutado histórias de gente adotada como pet, mas não acreditava nelas até acontecer comigo. Mal entendia o que falavam. Abriram a porta do carro e acenaram para eu entrar. Olhei ressabiado, com os olhos remelentos da noite. Jogaram um pedaço de Kit Kat no banco transeiro e não resisti.
No começo me deixaram num quartinho dos fundos do mega-apartamento. Me davam comida estranha. Não sabia dizer que não gostava daquilo. Deixava no prato e ficava com fome. A fome de deixava irritadiço e ameacei morder Seiji. Eles me deixaram de castigo e eu aprendi. Agora já sabem que eu gosto de comer bolinhas de arroz com tofu e que minha bebida favorita é macha latte gelado. Não mordo mais ninguém.
Me chamam de peto, a versão japonesa de pet. Acho fofo. Eu não falo nada, só mexo a cabeça para sim e para não e dou risadinhas quando eles me fazem cafuné ou acariciam minhas costas. Tomo banho diariamente. O quartinho ainda é meu, mas já posso dormir na sala e passo a maior parte do dia no sofá. Ryou trabalha de casa. Dá aulas de piano. Seus alunos já se acostumaram comigo. Como não sou japonês, devem achar que sou um animal qualquer, até porque tenho muitos pelos e minha barba está bastante longa. Sou peludo desde a pré-adolescência.
Poderia estar nos bares com as clientes. Poderia estar vivendo naquele dormitório longínquo ao lado do aeroporto de Narita. Poderia tantas coisas e aqui estou. Até da minha coleira aprendi a gostar. Só não curto quando os netos de Ryou e Seiji vêm visitá-los. São meio bruscos, os meninos. Uma vez enfiaram uma banana na minha bunda e lancei um latido esganiçado que nem sabia ter na guardado na garganta. Na semana passada, eu já estava preparado. Fiquei no quartinho o dia todo, mas eles conseguiram cortar a luz. Me deixaram no escuro. Quando tentei sair do quarto para ligar a chave elétrica, levei um choque na maçaneta. São uns diabinhos esses meninos Sakamoto.
🇬🇧 After four years of waiting, I finally arrived in Japan. I will be here during the month of October, in search of momiji, the red leaves of Fall. Fukuoka, Osaka, Tokyo, Kyoto, Nara, Hiroshima, Nikko and Naoshima are in the plans. I will say hello on Instagram every now and then and, at the end of the month, will come here to tell you about the trip, giving some tips and exchanging ideas. A book that inspired my itinerary is called Pachinko, by Min Jin Lee, which I highly recommend. For now, I leave you with this short story, as if it were a tuna nigiri or a small plate of edamame. Itadaikimasu!
PETO
I live comfortably in an apartment of over 300sq meters in Toranomom Hills, Tokyo. From the living room window, on clear days, I can see Mount Fuji. Every night I lie down on a comfortable mat next to the window and watch the endless city lights. I sleep right there enchanted by the neon lights while Ryou and Seiji listen to classical music.
The Sakamoto couple are quite generous. It took me a while to get used to living with them. I only realized what I could lose the day I escaped from the car during an early morning walk in Shibuya. It was very early and I recognized some former colleagues lying on the sidewalk. They must have missed the last train to the suburbs after too much alcohol and drugs. Being a rent boy in Japan is not easy. Especially as a foreigner. Luckily, Ryou ran after me, grabbed me by the collar, and took me back to the car, almost out of breath.
It was on a corner like that where they found me. They must have liked the way I slept snuggled up in a cardboard box. I had missed the train after talking to an annoying secretary at the bar where I worked. I hadn't drunk anything, unlike the girl who was carried away by the strong men who helped us at those times. I didn't even bother running to the station. Japanese trains are very punctual and the last one leaves very early for those who work late. I picked up a cardboard box from the recycling bin and slept right there.
When I woke up, the Sakamoto couple were looking at me and talking to each other. I had heard stories about people adopted as pets, but I didn't believe them until it happened to me. I barely understood what they were saying. They opened the car door and waved me in. I looked suspiciously, bleary-eyed. They threw a piece of Kit Kat on the back seat and I couldn't resist.
At first, they left me in a small room at the back of the mega-apartment. They gave me strange food to eat. I didn’t know how to say I didn't like it. I would leave it on my plate and go hungry. Hunger made me irritable and I threatened to bite Seiji. They locked me up for a few days and I learned the lesson. Now they know that I like to eat rice balls with tofu and that my favorite drink is cold macha latte. I don't bite anyone anymore.
They call me peto, the Japanese version of pet. I think it's cute. I don't say anything, I just shake my head yes and no and giggle when they pat me or stroke my back. I shower daily. The little room is still mine, but I can now sleep in the living room and spend most of the day on the couch. Ryou works from home. She gives piano lessons. His students have gotten used to me. As I'm not Japanese, they probably think I'm just some animal, especially because I have a lot of hair and my beard is quite long. I've been hairy since I was a teenager.
I could be in bars with customers. He could be living in that far-off dormitory next to Narita Airport. I could do so many things and here I am. I even learned to like my collar. I just don't like it when Ryou and Seiji's grandchildren come to visit. They're a little naughty, those boys. Once they stuck a banana up my ass and I let out a high-pitched bark that I didn't even know I could muster. Last week, I was already prepared. I stayed in the little room all day, but they managed to cut off the electricity. They left me in the dark. When I tried to leave the room to turn on the electric switch, I got a shock from the doorknob. These Sakamoto boys are little devils.
Nossa, a saudades do Japão bateu forte lendo essa news. Aproveita esse país tão mágico!
Vi, você é demais!!! Adorei esse seu novo capítulo . Continue esta viagem , com certeza vamos adorar compartilha-lá com você cada minuto!! Aproveite! Curta!!! E… não deixe de fotografar um salto que só vc sabe dar!!!😘👏