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🇧🇷 Apressei-me em escrever essa carta antes do fim do mês para caber um “Feliz 2022”. O ano mal começou e a coisa já se complicou outra vez, né? Vamos conseguir sair de 2020 em 2023, parece. Passei o fim do ano no Fim do Mundo. Buscava o fim do fim na esperança de recomeçar do começo, afinal, tudo é uma questão de perspectiva, especialmente para quem vive numa bola azul flutuando na Via Láctea. Visitei Ushuaia, na ponta sul da América do Sul e El Calafate, ao lado do famoso glaciar Perito Moreno. Voltei para casa com covid, assim como quase todo mundo que se juntou para comemorar a chegada de 2022 ou que pegou avião nas primeiras semanas de janeiro.
Tenho fascínio por lugares distantes. Talvez por ter lido muito Bruce Chatwin e Pico Iyer na adolescência. Vladivostok, Punta Arenas, Ilhas Faroe são lugares onde penso que poderia sentar-me numa mesinha de frente à janela e escrever o tão sonhado livro, que não sai nunca, nem quando estou em Helsinki ou Ushuaia. Penso nesse livro todos os dias. Escrevo páginas ao longo das minhas caminhadas, corridas e voos sobre os oceanos. Na hora de transferir o texto da cabeça para a página, ele escorre pela mente, se esconde entre meus dedos ou vai para algum lugar perdido em Andrômeda.
O mesmo acontece com essa carta, que escrevo diariamente. Tenho essa conversa com você enquanto estou no banheiro, enquanto espero a água do chá ferver, na sala de espera da endocrinologista. É um exercício diário, que inclusive transcrevo num arquivo meio desconexo junto com anotações no celular. Se não tiver pressão, meta ou prazo, como o fim deste mês para poder desejar Feliz Ano Novo, encontro outras atividades que me distraem, como ler ou escutar podcasts. Na sala, há uma pilha de livros chamada “para ler" que cresce mais rápido do que a curva da Ômicron. Fora os pdfs de livros da curadoria da Amora Livros. Todos me suplicam, leia-me, abra-me, descubra-me, divulgue-me e geram uma ansiedade tamanha que leio quatro ou cinco livros ao mesmo tempo e não escrevo quase nada. Pelo menos não misturo as histórias. Ainda. Quando me dou conta, passaram-se meses sem notícias. Nem uma fotinho no Instagram.
Qual a sua marca registrada? Me dei conta de que a minha é a mala – ou mochila – carregada de livros. Desde pequeno volto de viagens com excesso de livros. A primeira vez que tive um acesso bibliomaníaco devia ter uns 12 anos e acabara de ler “Uma Casa na Campina”, de Laura Ingalls Wilder. Fui para os Estados Unidos e numa das várias livrarias que entrei (outra marca registrada) vi toda a coleção dela. Lembro da emoção que senti em olhar para aqueles livros na estante americana e pensar que aquelas histórias estavam ao meu alcance. Comprei o set completo e os trouxe na mala de mão. Nem sabia ler direito em inglês. Foram os primeiros livros da estante “para ler” que nunca li.
Nesses 22 dias de 2022, fora morrer de frio na Patagônia, morrer de calor em Buenos Aires e quase morrer de covid (calma, é só para dramatizar um pouco, afinal, sou vacinado e peguei a tal variante fraquinha), assisti na Netflix "Emily in Paris 2", sonhando em ser a chefe Sylvie e também "A Filha Perdida", com Olivia Colman, sonhando em voltar para a Grécia. Escutei os três primeiros episódios do podcast "Lifespan", do Dr David Sinclair, um dos maiores especialistas de Harvard em envelhecimento que dá dicas de como viver melhor (apenas em inglês) e devorei a "Trilogia da Cidade de K.", da húngara Ágota Kristóf, que comprei na livraria Céspedes, em Buenos Aires.
Fecho essa carta desejando, mais uma vez, um Feliz 2022. É ano de Copa do Mundo e de Eleições. Espero que o Brasil ganhe uma ou outra. Em poucos dias o site da Amora Livros vai ao ar e o frio na barriga é inevitável. Passa lá a partir de 01.02.22 e segue a gente no Instagram ou Facebook. Com o sucesso da Amora vou poder sentar na mesinha com vista do Atacama e, quem sabe, deixar as minhas histórias escorrerem para as páginas. Seria lindo. Nos vemos em fevereiro. Até já. Se acha que alguém vai curtir isso:
e se ainda não assinou:
🇬🇧I rushed to write this letter before the end of the month to fit a “Happy 2022” in. The year has barely started and things have already gotten complicated again, right? We'll make it out of 2020 in 2023, it seems. I spent the end of the year at the End of the World. I was looking for the end of the end in the hope of starting over from the beginning, after all, everything is a matter of perspective, especially if you live in a blue ball floating in the Milky Way. I visited Ushuaia, at the southern tip of South America, and El Calafate, next to the famous Perito Moreno glacier. I came home with covid, as did almost everyone who gathered to celebrate the arrival of 2022 or who took a plane in the first weeks of January.
I am fascinated by faraway places. Perhaps because I read a lot of Bruce Chatwin and Pico Iyer in my teens. Vladivostok, Punta Arenas, Faroe Islands are places where I think I could sit at a little table in front of the window and write my long-awaited book, which never comes out, even when I'm in Helsinki or Ushuaia. I think about that book every day. I write pages along my walks, runs and flights over oceans. When it's time to transfer the text from my head to the page, it escapes through holes in my mind, it hides between my fingers on the keyboard or goes to some lost place in Andromeda.
The same is true of this letter, which I write daily. I have this conversation with you while I'm in the bathroom, waiting for the tea water to boil, in the endocrinologist's waiting room. It's a daily exercise, which I even transcribe in a somewhat disjointed file along with notes on my cell phone. If I don't have pressure, goals or deadlines, like the end of this month so I can wish you a Happy New Year, I find other activities that distract me, like reading or listening to podcasts. In my living-room, there is a pile of books called "to read" that grows faster than the Omicron’s curve. Apart from the pdfs of books curated for Amora Livros. They beg to be read, to be opened, to be discovered and shared and generate such much anxiety that I end up reading four or five books at once and writing almost nothing. At least I don't mix the stories. Yet. When I realize, months have passed without news. Not even a pic on Instagram.
What is your trademark? I realized that mine is the suitcase – or backpack – full of books. Since I was little I would return from holidays with an excess of books. The first time I had a bibliomaniac attack, I must have been about 12 years old and had just finished reading “A Little House on the Prairie” by Laura Ingalls Wilder. I traveled to the US and in one of the several bookstores I visited (another trademark of mine) I saw her entire collection. I remember the emotion I felt when I looked at those books on the American shelf and thought those stories were within my reach. I bought the set and brought them in my handbag. I couldn't even read English properly. They were the first books on the “to read” shelf that I have never read.
In these 23 days of 2022, apart from dying from the cold in Patagonia, dying from the heat in Buenos Aires and almost dying from covid (calm down, it's just a little drama, after all, I'm vaccinated and I caught this mild variant), I watched on Netflix: "Emily in Paris 2", wishing I were Sylvie and "The Lost Daughter", with Olivia Colman, dreaming of returning to Greece. I listened to the first three episodes of the "Lifespan" podcast by Dr David Sinclair, one of Harvard's leading experts on aging who gives tips on how to live better and devoured “The Notebook, The Proof, The Third Lie”, by Hungarian émigré Agota Kristof, which I bought at Céspedes Bookstore in Buenos Aires.
I close this letter by wishing, once again, a Happy 2022. It is the year of the World Cup and Elections. I hope Brazil wins one or the other. In a few days, the Amora Books website will go live and the butterflies in the stomach are inevitable. Stop by from 01.02.22 and follow us on Instagram or Facebook. With Amora's success, I'll be able to sit at the little table overlooking the Atacama and, who knows, let my stories flow onto the pages. It would be beautiful. See you once again in February.
Feliz 2022!!!
Filho, estive com vc dia 14. Feliz 2.022, aguardo fevereiro com ansiedade!!!! Seja feliz!