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ROTA> đAeroporto de AstĂșrias - San Esteban de Pravia - Soto de Luiña - Cadevedo - Luarca - Navia - Tapia de Casariego - Ribadeo - Villamayor Grande - Mondoñedo - AbadĂn - Vilalba - Baamonde - Parga - ArzĂșa - A Brea - Lavacolla - Santiago de Compostela đȘđž
Levei quase 50 anos para descobrir uma das formas mais interessantes e gratificantes de viajar. Caminhei durante 19 dias, percorrendo 314 km do Camino del Norte, desde o aeroporto de AstĂșrias, que serve Oviedo, atĂ© Santiago de Compostela, na GalĂcia.
Fazer o Caminho de Santiago Ă© revelador, meditativo, uma experiĂȘncia transformadora. Talvez seja uma das rotas mais populares da Europa hĂĄ sĂ©culos, simplesmente por suas qualidades comoventes. Dizem, inclusive, que foi o Caminho e a profusĂŁo de peregrinos que forjou o conceito de Europa.









Dos 19 dias, cada um foi uma cĂłpia do outro. Acordava antes do sol nascer. Mochila nas costas, botas nos pĂ©s e, simbora, a seguir as flechas amarelas durante 4 a 5 horas. No povoado seguinte, tomava um banho delicioso e saĂa de meias e chinelos para comer. Quase sempre, uma tortilha de batatas num balcĂŁo animado por senhores mais velhos que as pedras do Caminho.
Mesmo seguindo essa fĂłrmula, a caminhada em si era sempre completamente diferente. Cada dia, o Caminho me trazia algo inusitado com que me ocupar, pensar, me alumbrar e deslumbrar. Houve momentos de irritação com a mochila, com as botas molhadas e as meias Ășmidas. Choveu, fez sol, ventou, subi, desci, e o corpo, aos poucos, foi entrando em sintonia com tudo. Foi tĂŁo poderoso quanto um retiro de 10 dias de Vipassana, a meditação em silĂȘncio.
Agora estou viciado em caminhar. As distĂąncias tomaram uma nova proporção. A geografia das paisagens passou a ser um grande atrativo. Enquanto caminho, penso menos em bobagens. Quando elas vĂȘm, sei que logo desaparecem, atĂ© mesmo com os pĂ©s gelados e encharcados. NĂŁo quero parar. Iria a pĂ© de Santiago de Compostela a Hong Kong!
Vejo a Catedral de Santiago, onde dizem estar os restos do santo, amigo Ăntimo de Jesus. NĂŁo sou religioso, mas a sensação de entrar no templo, com os cĂąnticos e o cheiro milenar de incenso, faz com que o tempo se comprima e se dilate. Santos, estrelas, manjedouras, carpinteiros, traidores, catacumbas, magos e atĂ© mesmo o sinal da cruz fazem sentido, de certa forma. Quando faltavam poucos dias para chegar, a trilha ficou cheia. Gente de todo o mundo, de bicicleta, conversadores, grupos. Me dei conta de que estĂĄvamos todos, cada um Ă sua maneira e ritmo, a caminho do mesmo altar. Num clique, formamos uma comunhĂŁo.
Recomendo caminhadas. Passeios sem fones de ouvido. Colocar-se Ă mercĂȘ dos elementos. Carregar consigo o bĂĄsico do bĂĄsico e sempre acreditar em si e na bondade dos outros. Acreditar em algo superior. Acreditar que hĂĄ mais coisas entre o cĂ©u e a terra do que imaginamos. Acreditar que hĂĄ saĂda para nossas encruzilhadas.
Queria começar o Caminho novamente. O bom é que hå vårias rotas até aqui: do Porto, da França, por Rioja. Mas hå também outros caminhos. Basta abrir a porta e dar o primeiro passo.
Amanhã, pego o trem de alta velocidade para Madri. Em quatro horas, cobrirei mais do que o dobro da distùncia que levei 19 dias caminhando. Vou precisar me reacomodar aos ritmos e às multidÔes. A vida é um constante reajuste afinal.
đŹđ§ It took me almost 50 years to discover one of the most interesting and rewarding ways to travel. I walked for 19 days, covering 314 km along the Camino del Norte, from Asturias Airport, which serves Oviedo, to Santiago de Compostela in Galicia.
Walking the Camino de Santiago is enlightening, meditative, a transformative experience. Perhaps it has been one of the most popular routes in Europe for centuries, simply because of these heartfelt qualities. They even say it was the Camino and the multitude of pilgrims that forged the concept of Europe.
Of the 19 days, each was a copy of the other. I woke up before sunrise, backpack on my shoulders, boots on my feet, and off I went, following the yellow arrows for 4 to 5 hours. After arriving at the next village, I would take a refreshing shower and go out in socks and sandals to eat. Almost always, a potato tortilla at a counter animated by men older than the stones on the Camino.
Even following this formula, the walk itself was always entirely different. Each day, the Camino brought me something unexpected to occupy my mind, think about, be amazed and dazzled by. There were moments of frustration with the backpack, with wet boots and damp socks. It rained, it was sunny, it was windy, I climbed, I descended, and gradually my body found its rhythm with everything. It was as powerful as a 10-day Vipassana silent meditation retreat.
Now Iâm hooked on walking. Distances have taken on a new dimension. The geography of the landscapes has become a major attraction. As I walk, I think less about trivialities. When they arise, I know they will soon disappear, even with cold, soaked feet. I donât want to stop. Iâd walk from Santiago de Compostela to Hong Kong!
I see the Cathedral of Santiago, where the remains of a saint, a close friend of Jesus, lie. Iâm not religious, but the feeling of entering the temple, with the chanting and the millennia-old scent of incense, makes time compress and expand. Saints, stars, mangers, carpenters, traitors, catacombs, magi, and even the sign of the cross start to make sense, in a way. When there were only a few days left to arrive, the trail became crowded with people from all over the world, on bikes, chatty groups, excursions of all kinds. I realized that we were all, each in our own way and rhythm, headed to the same altar. In an instant, we formed a communion.
I recommend walking. Walks without headphones. Placing oneself at the mercy of the elements. Carrying only the bare essentials and always believing in oneself and in the generosity of others. Believing in something greater. Believing that there are more things between heaven and earth than we can imagine. Believing that there is always a way out of our crossroads.
I wanted to start the Camino again. The good thing is that there are many routes to get here: from Porto, from France, through Rioja. But there are also other paths. Just open the door and take the first step.
Tomorrow, Iâll take the high-speed train to Madrid. In four hours, Iâll cover more than double the distance that took me 19 days of walking. Iâll have to readjust to the pace and the crowds. But life is constant readjustment.









Que bela aventura! Tao bom passar um tempo com belas paisagens, sem ter pressa, nem pensamentos nos prblemas e sĆ viviendo o presente com intensidade e luz !
Viva a vida!!!!
Congratulations ! ! ! You made a wonderful pilgrimage of your life and experiences ! !
God glesse you all the way...